Por André Bonomini
Ahhh, la douce France! História, com ar de arte, romance e história. A França dos livros, dos imperadores absolutistas caídos na queda da famosa prisão da Bastilha, de Napoleão e sua megalomania que tomaram a Europa (e que vai virar filme), das guerras, do general De Gaule, da Legião e do Inspetor Clouseau, famosa caricatura na pele do saudoso Peter Sellers.
A França, que nos convida sempre a mergulhar na arte: na pinacoteca mais rica do mundo no Louvre ou nos monumentos que são sua marca a céu aberto: o Arco do Triunfo que adorna a Champs Elysées, os jardins de Versalhes e a tão pop Torre Eiffel. A mesma França que produziu Moulin Rouge, Pigalle, que encanta com Strasbourg, Riviera, Provença, Cote d’Azur, que é histórica quando falamos em Normandia.
É difícil a gente resumir o tão pop que a França é em poucas linhas. Podiamos falar longamente da produção de cinema, que dá belas paisagens, inspirações e películas que chamam a atenção pelo “pensar fora da caixinha” e pela liberdade que trazem em todas as facetas. Podemos derrear-se no esporte francês, das bicicletas, do futebol de Platini, Zidane, Mbappé e Paris Sanit-Germain, da velocidade de Prost, Le Mans, Renault, Peugeot e Citroen, ou claro… podemos falar de música, e é o que faremos!
Afinal, estamos numa rádio que abre caminho por sons e talentos do mundo todo, e a França, nesta seara, foi prodigiosa demais com o cancioneiro mundial. Cantores e cantoras que versavam puramente sobre o amor, talvez inspirados pelos casais que cruzavam as praças de Paris enamorados e leves, ou também influenciados pela proximidade com os EUA, o que tornou seu Pop/Rock mais encorpado e alinhado com o som mundial do que, por exemplo, a Itália ou a Alemanha em muito tempo (sem desmerecer a ambos, claro).
A cena musical francesa tem tanta história quanto grandes canções. Desde o tempo de nossos pais e tios até o dias atuais, onde vários nomes tem conseguido destaque com essa música diferenciada, e não só pela lingua, mas também pelos arranjos com um toque de classe ou explorando outras formas de sonoridade, de composição, talvez motivados por este ar de arte clássica que ventila por lá.
Sendo assim, separamos aqui alguns nomes que não podem faltar em alguma pesquisa musical sobre o país da baguette, do crepes-suzette, do Cointreau e do Can-can. Para quem pesquisa e mergulha no som, é uma boa pedida para variar os caminhos e descobrir que bossas tem o bleu-blanc-rouge na música mundial.
Edith Piaf e Charles Aznavour
Começar por aqui é começar com o básico, pura e simplesmente. Édith Giovanna Gassion, que mais tarde virou Piaf e encantou o mundo, é uma sumidade em matéria de música francesa. Virou filme (Piaf: Um Hino ao Amor), tem canções que nos fazem trafegar pelas vias de Paris independente de onde estivermos, misturando o “chanson” tradicional francês com um toque clássico único, trafegando entre a alegria esfuziante e a melancolia de uma vida que teve, exatamente, as mesmas notas tão opostas.
Já Aznavour, descendente de armênios (muitos da classe artística francesa tem descendências estrangeiras, vá notando), traz consigo um romantismo um pouco mais trabalhado nas nuances dos anos 1950 e 1960, sem perder a profundidade poética de suas canções, que correram o mundo junto com ele. Atuou em mais de 50 filmes, compôs cerca de 850 canções e manteve-se firme e cantando vigorosamente até o fim da vida, com um autêntico combatente francês… da boa musica, claro!
Richard Anthony
Se a França teve, em algum momento, uma “Jovem Guarda“, o nome a ser citado é deste garoto nascido na distânte Cairo (Egito). Dada a proximidade do Rock e dos costumes dos EUA com os franceses (algo histórico, diga-se), a música francesa seria fortemente influenciada por estas vertentes vindas do outro lado do Atlântico, sobretudo nos anos 1960.
É ai que Anthony entra, trazendo à França várias versões de grandes sucessos cantados nos EUA, colocando um toque bem pessoal e que dá a elas um som totalmente diferenciado das suas iguais originais. O cantor fez grande sucesso no Brasil, ajudando a pavimentar a entrada da musica francesa no país com temas dançantes como “Tchin Tchin“
Françoise Hardy
Assim como Anthony, Françoise é uma das cantoras que se alinhou a este lado mais “americanizado” do som dentro da França. No entanto, a profundidade de algumas de suas músicas soam quase como uma versão mais moderna e conceitual do que foi Edith Piaf antes dela. Melodias que alternam entre a poesia e o arranjo mais pop de suas faixas, de muito sucesso entre nos anos 1960 e 1970.
Sensível e sofisticada musicalmente, Hardy também é uma bela e elegante mulher da capital (nascida em Paris mesmo), mesmo que esteja há tempos longe da música e se tratando das sequelas de um câncer que sofrera. É a única francesa na lista dos 200 maiores cantores de todos os tempos” da Rolling Stone, e não é pra menos, “La Question” estourou no Brasil no fim da década de 1960.
Claude François
Na sinceridade, Cloclo (como é apelidado na França) é ainda muito pouco conhecido no Brasil, mas uma de suas canções – talvez, seu maior acerto musical dentre todas – é, simplesmente, uma das melodias mais lembradas do cancioneiro mundial: a apoteótica “Comme d’Habitude“, que pelas mãos de Frank Sinatra transformaria-se na fantástica “My Way“, reproduzida até hoje por grandes nomes da música.
Mas Cloclo é muito mais que só esta canção. Cantor e dançarino nascido no mesmo Egito de Richard Anthony, foi na voz dele que a música francesa tomou uma espécie de “soco”, voltando-se fortemente para o pop com arranjos inspirados no Soul, Disco e Pop dos EUA. Também fez muitas versões, mas tem também uma produção própria muito rica, entre melodias mais sensíveis e sons dançantes.
Vale a pena conhecer melhor a trajetória de Cloclo, entre seu perfecionismo, erros e acertos e a percepção musical e de mercado que o tornou um fenômeno francês nos anos 1970. Pra isso fica a sugestão de filme: “My Way: O Mito Além da Musica (Cloclo)“
Serge Gainsbourg
Cantor, ator, diretor, pintor, poeta, compositor, um homem cheio de facetas, com um olhar que exalava uma espécie de depressão poética, de vida intensa e profunda, entre seus excessos e descaminhos. Pode ser apreciável tudo isso na música? Se for deste francês de aparência desleixada e fala mansa, com certeza, pois Serge fez muito bem isso.
Profundo em suas letras e melodias, em que canta e, as vezes, declama com intensidade inigualável, Gainsbourg deixou pelos anos 1960 aos 1990 músicas com forte teor romântico, beirando a sensualidade e a desilusão, mas de arranjos densos e ambientação tipica de suas reflexões, que passaram a história como um dos artistas mais completos e complexos da música francesa.
Voyage e Jean-Marc Cerrone
Quando falamos desse alinhamento com o que rolava no mainstream mundial – sobretudo os EUA – a cena Discotheque é muito forte também nas esquinas da França. Não a toa, algumas das melodias mais clássicas das pistas setentistas saíram da criação de André “Slim” Pezin, Marc Chantereau, Pierre-Alain Dahan e Sauveur Mallia, além do talento da vocalista britânica Sylvia Mason-James, que dá a nuance perfeita que fez do Voyage uma referncia no som naqueles tempos.
Na mesma linha Disco também trafega o som contagiante do produtor musical Jean-Marc Cerrone, o primeiro superstar do estilo no país. Influenciado pelo Soul e trabalhando fortemente com sons eletrônicos, o músico vencedor de cinco Grammy é uma das referencias do estílo vindas da Europa, lembrado por melodias que carregam a mesma sensualidade de Gainsbourg (como “Love In C Minor“) ou arranjos elaborados como o de “Supernature“, um de seus principais êxitos.
Daft Punk
Alias, produção musical que se diz, né? E como fechar os olhos para uma das maiores expressões musicais do eletrônico em todos os tempos? Não há nenhum exagero em referenciarmos assim Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, o duo que deu vida a seres permanentemente de capacete, raramente vistos sem eles, mas ouvidos de canto a canto.
O som do Daft Punk é o ponto de inicio de muitos que buscam referenciais na musica eletrônica. Uma batida contagiante, melodias marcantes que nos transportam para algum lugar entre os anos 1990 e 2000, com notas eletrônicas até nas vozes dos vocais, quase espaciais, convidando a uma apoteose única no som
A dupla se separou em 2021, pegando o mundo de surpresa, mas o som deles, esse é eterno, a gente sabe bem.
Phoenix e ZAZ
E a França continua, notadamente, produzindo grandes nomes para o mercado musical internacional, sempre alinhada com o que mais rola de tendência nas composições mundo afora, mas sem esquecer aquele toquinho especial do som vindo especialmente de lá. Foi o que fez a musica francesa ser reconhecida em todo canto.
Falando de Phoenix, a criação de Thomas Mars, Deck D’Arcy, Christian Mazzalai e Laurent Brancowitz nasceu na comuna de Versalhes, mesmo nascedouro dos garotos do Daft Punk. Seu som é uma mistura deliciosa de influencias baseadas no Rock, mas que bebem de New Wave, Synthpop, Indie, Dance e Alternativo, numa mescla rica e intensa em cada nota.
Agora, assim como o Phoenix, a francesa Zaz (Isabelle Geffroy) é, sem dúvida, uma das sensações do mainstream mundial. Seu som mesclado entre o tradicional francês e o Gypsy Jazz é uma riqueza deliciosa e leve aos ouvidos, sobretudo a icônica “Je Veux“, que corre o mundo como uma das páginas mais fortes e referencias da música da França na atualidade, mas que, claro, não para apenas nela.