E depois dos desenrolares da grande noite do cinema, a pergunta que fica no ar é: vamos lembrar dela pelo silêncio inspirador ou pelo som de um tapa inesperado? Seja como for, o Oscar 2022 reservou surpresas e histórias como sempre tem reservado, mas as deste ano tem este tom ambíguo entre o ruído de uma agressão e a vitória de uma produção inclusiva onde a voz era o que menos importava.
Disparadamente, “No Ritmo do Coração” foi o grande destaque da noite. A produção nascida no streaming e adaptada de uma película francesa faturou a cobiçada estatueta de “Melhor Filme“, sendo a primeira dada a um filme produzido em um canal virtual. Isto sem contar que Troy Kotsur foi agraciado como “Melhor Ator Coadjuvante“, sendo o primeiro artista surdo a faturar o prêmio, isto fora as vitórias na categoria “melhor roteiro adaptado”, que coroou a noite de glória do produto da Apple TV+.
No entanto, “No Ritmo do Coração” não foi, necessariamente, a mais premiada da noite. O fantástico “Duna” foi o responsável por limpar as prateleiras de estatuetas da noite. Na primeira edição com oito categorias consideradas técnicas entregues antes do início da transmissão, o filme adaptado do romance de Frank Herbert faturou seis de suas 10 indicações: “Efeitos Visuais”, “Fotografia”, “Som”, “Trilha Sonora”, “Edição” e “Design de Produção“.
E do lado musical de toda esta história noturna em Los Angeles, a “Melhor Canção Original” caiu no colo da menina-prodígio Bille Eilish, com a profunda “No Time to Die“, composta junto do irmão, Finneas, para “007 – Sem Tempo para Morrer“. Foi uma categoria pesada, onde a cantora teve de enfrentar nomes como Beyoncé e Van Morrison para levar a estatueta para seu recôncavo, merecida por sinal.
E o tapa?
Pois é, se o grande filme da noite teve o silêncio como parte de seu enredo, o som estalado de um tapa na face foi, talvez, um dos momentos mais marcantes dos últimos tempos do Oscar, e coube a quem levou (merecidamente) para casa, pela primeira vez, a estatueta: Will Smith, por sua atuação em “King Richard: Criando Campeãs“, contando a história do persistente Richard Williams e a criação de Venus e Serena como grandes atletas de todos os tempos.
Antes de receber o prêmio, Will viu o apresentador da categoria, Chris Rock, subir ao palco para apresentar o vencedor do “Melhor Documentário”. No discurso, ele fez piadas com a cabeça raspada da mulher de Smith, Jada Pinkett-Smith, comparando-a com a personagem de Demi Moore, em “Até o Limite da Honra” (1997).
Foi o que bastou: Will foi até o palco e, sem titubear, deu um tapa na cara do comediante, que ficou visivelmente sem graça. Quem assistia a cena ficou com sentimentos ambíguos: afinal, foi algo combinado ou uma reação inesperada do ator? Em seu discurso de agradecimento pela estatueta de “Melhor Ator“, Smith pediu desculpas à Academia e aos convidados. “Virei o pai louco, igual a Richard Williams. O amor nos faz fazer coisas loucas”, disse.
Por fim (e outra vez), o Brasil tinha chances de ganhar seu primeiro Oscar com o carioca Pedro Kos, codiretor do curta documental “Onde eu Moro“. Mas não foi dessa vez (mais uma vez). Na categoria, o vencedor foi “The Queen of Basketball“, que faz reverencia aos feitos de Lucy Harris, uma das maiores jogadoras da NBA de todos os tempos.
Enfim, entre tapas e palmas, veja outros vencedores da noite de gala do cinema:
Melhor atriz: Jessica Chastain – “Os Olhos de Tammy Faye”
Melhor direção: Jane Campion – “Ataque dos Cães”
Melhor documentário: “Summer of Soul (…ou Quando A Revolução Não Pôde Ser Televisionada)”
Melhor roteiro original: “Belfast”
Melhor figurino: “Cruella”
Melhor filme internacional: “Drive my Car” (Japão)
Melhor animação: “Encanto”
Melhor atriz coadjuvante: Ariana DeBose – “Amor, sublime amor”
Maquiagem e cabelo: “Os olhos de Tammy Faye”
Melhor curta-metragem em live action: “The Long Goodbye”