Congregar: o poder da estrela de Ringo Starr

Por André Bonomini e Endrio Chaves

“Oh, eu me safo com uma ajudinha dos meus amigos
Hmm, eu fico doidão com uma ajudinha dos meus amigos
Hmm, tentarei com uma ajudinha dos meus amigos”

Dizer que ninguém faz música sozinho é um exagero, mas no caso de Ringo Starr, talvez seja impossível enxergar o “senhor dos anéis” produzindo som e curtindo shows sendo apenas ele e sua própria sombra. E num dia como hoje, uma sexta-feira, nada melhor que falar dele e do seu natalício lembrando deste lado congregador tão seu.

Olhando em volta, os que curtem a memória dos Beatles e tem Ringo como o favorito (é raro, mas tem!), observa-lo reunir um time de peso para a sua All-Starr Band na formação atual é de encher os olhos. Ali dentro, são senhores de sons diferentes, épocas diferentes, reunidos para fazer música juntos, deslumbrar as plateias sob a batuta do homem e sua estrela.

Aliás, Ringo parece sempre acreditar na sua estrela, naquela que mostra um sujeito de autoestima inigualável. Chama-lo de “musico comum” ou “baterista medíocre” pela simplicidade de seu som e forma de tocar é uma ofensa inaceitável para qualquer crítico de música, mas que batem e rebatem na cristalinidade do auto amor de Starr. Ele brinca, ri e se diverte, sorri e pede “peace and love” sempre que possível, e rodeado de pessoas contagiadas pela luz que emana, na música e na vida.

E essa coisa de congregar e chamar para perto me faz lembrar de uma passagem, se não curiosa, ao menos provocativa de imaginação: foi em 1974, pouco mais de quatro anos que os Beatles haviam seguido, cada um, seus rumos pessoais e profissionais, que um boato passou a circular com força, segundo a matéria de junho daquele ano da saudosa revista Geração POP: estaria Ringo planejando uma reunião do fab four?

Dentro dos Beatles, onde as lembranças de Starr mais correm, não era ele apenas um garoto da bateria marcando o ritmo ao seu jeito. Ringo era tão querido que, tirando as zoações naturais dos próprios companheiros de esquadra (“melhor do mundo? Ele nem é o melhor dos Beatles!”, teria brincado John Lennon certa feita), era estimado por este poder congregador.

“Se fomos felizes em desfrutar de quase 10 anos de atividade dos Beatles, esta felicidade deveria ser creditada à Starr. Nada mais comum – e igualmente repugnante – que um quarteto de jovens mundialmente famosos e amados por conta de sua música, tivessem suas diferenças e brigas de egos, em especial pelos dois ‘protagonistas’, John e Paul”, afirma o também comunicador da União, Endrio Chaves.

Responsável também por trazer, nas noites de domingo e direto da simpática Pelotas, um pouco da história do quarteto no seu “Rock It Be“, Endrio reforça esse papel de elo de ligação de Starr no contexto da banda. “Me nego a acreditar que talento ou vislumbre por mais fama e consagração seriam capazes de manter essa banda por uma década. Era preciso alguém ali, no âmago do grupo, para apaziguar e dar o devido ritmo para o dia a dia de trabalho. Ringo Starr é esse elo até hoje. Seja junto à Paul, às lembranças da dupla que se foi, ou com outros grandes artistas da música. Talvez não o considerem o melhor baterista, porque antes ele era o melhor amigo dos Beatles”.

A sua saída temporária, no meio do período de auge, apertou os corações dos três, e não demorou muito para que ele voltasse ao seio da trupe, despertando as mesmas sensações de chegada que só mesmo alguns fãs puristas não acreditavam quando do primeiro show dele junto dos Beatles, pedindo em gritos a permanência de Pete Best. Enfim, quis o talento e o carisma de Ringo que ele fosse o elo.

E, de volta a 1974, a esperança era que estava nas mãos dele uma hipotética reunião do fab four. Já tinha conseguido, segundo falava-se, o mais difícil: fazer John e Paul se entenderem. No entanto, o que seria um acontecimento histórico da música marcado para Montreal ficou no puro imaginário, mas Ringo ainda era, de todo, o “irmão” entre os colegas e acompanha-los juntos em cada reunião era de brilhar as retinas.

Até hoje, mesmo, seja junto da All-Starr Band ou em trompaços com Paul McCartney, Ringo parece convidar a nós mesmos para se juntar a ele nessa onda de positividade e pura música. Ele é mais do que um militante musical que acredita na estrela que tem, é um amigão de todos e sempre canta isso.

E como qualquer estrela, nada melhor do que viver em constelação, pura e simplesmente.

Peace and love, Ringo!

Ver mais novidades