Eurovisão: Histórias, curiosidades e os preparativos para o mais clássico dos festivais

É mais do que certo: quando o prelúdio apoteótico de “Te Deum“, obra do compositor clássico francês Marc-Antoine Charpentier, é ouvido em um dia por maio é certo que a Europa está de mãos dadas para um grande evento: o mais clássico festival da canção do mundo está entrando no ar para diversos países, uma verdadeira festa da musica, em vários idiomas (mesmo que a maioria seja em inglês), em vários países, bandeiras, formas e estilos.

De 10 a 14 de maio, todas as melodias do Velho Continente vão pulsar em Turim, na Itália, para a 66ª edição do Eurovision Song Contest, ou Festival Eurovisão da Canção (para nós, brasileiros e portugueses, claro). Desde 1956, quando o primeiro evento foi organizado em Lugano, na Suiça, o concurso mostrou-se mais do que uma disputa musical, mas também uma reunião de várias culturas europeias (e até de fora da Europa) em torno do som e de um momento em paz e união, coisa tão necessária nestes tempos de guerra.

A edição de 2022 é uma espécie de “reconsolidação” do evento que, forçado pela pandemia da Covid-19, teve seu primeiro hiato em uma história que, além da musica e de grandes revelações, teve mistos de tensão, a mistura com a política e eventos externos, mas histórias que, se não são curiosas apenas, ficam marcadas na história de cada edição.

E é desta história que os italianos do Måneskin fazem parte. Graças a vitória da banda sensação do pop na disputa de 2021, em Roterdã (Holanda), a Itália terá a terceira oportunidade de sediar o encontro. O país faz parte do chamado “Big Five“, grupo que inclui os maiores incentivadores e financiadores do concurso: além da terra da bota, estão Reino Unido, França, Alemanha e Espanha, sendo os britânicos os que mais sediaram o Eurovisão, entre edições na Inglaterra e Escócia.

O Måneskin com a taça no Eurovisão de 2021

A primeira vez que a Itália foi a casa do som europeu foi em 1965, quando a vitória de Gigliola Cinquetti, interpretando “Non Ho L’età” em Copenhagen (Dinamarca) trouxe o festival para Napoles, no sul italiano. A segunda oportunidade, no entanto, seria só 26 anos depois, em 1991, no canto inspirado na futura União Europeia de Toto Cutugno (“Insieme:1992“) interpretado no concurso realizado em Zagreb (à época, na antiga Iugoslávia, hoje capital da Croácia), trazendo a festa para a eterna Roma.

O modus operandi do Eurovisão mudou muito com os anos. No princípio, o concurso tomou como base o regulamento do Festival de Sanremo, também italiano e um dos mais antigos do mundo. No entanto, com a entrada de mais países no jogo, foi preciso mudar as regras e colocar semifinais no caminho. O que era uma única noite passou-se a ter quatro nesta edição, separando os países em “grupos” e se classificando para a grande final no último dia de evento.

Abaixo, você vê algumas curiosidades da história do Eurovisão, de momentos tensos e tristes a vencedores, revelações e até gente que “zerou” a pontuação do festival. Veja só e conheça mais sobre este encontro regado a musica, união e alegria:

– A maioria das canções apresentadas no Eurovisão são, de fato, em inglês, Uma regra que surgiu em meados dos anos 1970. No entanto, isso não significou vantagem para o Reino Unido, que é um dos maiores vencedores do festival junto de França, Luxemburgo e Holanda, com cinco títulos. Quem detém mais troféus em casa é a Irlanda, com sete vitórias, seguida da Suécia, com seis, além dos irlandeses ter o maior número de conquistas seguidas: três (1992 a 1994).

– Na primeira edição do festival, em Lugano (Suíça) participaram apenas 7 países: além dos anfitriões estavam Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo. E a própria Suíça faturou a primeira edição com “Refrain“, tema interpretado por Lys Assia.

https://www.youtube.com/watch?v=Y70nvFtcAco&ab_channel=EurovisionGOLD

– Já concorreram no Eurovisão mais de 1500 canções. Se alguém as quisesse escutar a todas, sem pausas, precisaria de quase 72 horas (e contando).

– Em 2015, o Eurovisão foi reconhecido pelo Guinness Book como o mais longo programa anual de competição de música.

– Sabe qual foi o primeiro escândalo do Eurovisão? Em 1957, os concorrentes dinamarqueses Birthe Wilke e Gustav Winckler se beijaram durante 11 segundos no final da sua atuação. Imagine só…

– A canção com mais versões da história da Eurovisão é “Nel Blu Dipinto Di Blu”, um verdadeiro hino de Domenico Modugno (1958) e popularmente conhecida como “Volare”. Nomes como Dean Martin, Cliff Richard, David Bowie e os Gipsy Kings já a cantaram.

Birthe Wilke e Gustav Winckler, o beijo “escandaloso” de 11 segundos da edição de 1957
https://www.youtube.com/watch?v=bosuMPG594A&ab_channel=EurovisionGOLD

– O “zero pontos” na votação do Eurovisão existe sim! E a Noruega é a maior detentora do “último lugar” na história. Já ficou 11 vezes no fundo da classificação, mesmo tendo três canecos da campeã nas estantes.

Israel tem uma história curiosa no Eurovisão. O país participou pela primeira vez em 1973, em Luxemburgo, e sempre teve ótimas pontuações nos anos 1970. Foi lá, em Tel Aviv, que foi realizado o primeiro festival fora da Europa, em 1979, e que requereu esquemas reforçados de segurança por conta das tensões com os árabes. Aquele festival acabou como vitória israelense novamente, mas em 1980, a Holanda assumiu a responsabilidade de organizar o concurso pois a data do ano seguinte coincidia com uma data nacional solene dos israelitas.

– E não é só Måneskin que goza de um sucesso repentino depois do Eurovisão. Entre os concorrentes que tiveram carreiras de sucesso após o concurso estão gente do naipe de ABBA (vencedor de 1974), Céline Dion (vencedora de 1988), Cliff Richard (participante em 1968 e 1973) e Júlio Iglesias (participante em 1970). E um detalhe: apesar de ser canadense de nascimento, Céline concorreu pela Suíça no festival de 1988 aproveitando ainda o fato de fazer muito sucesso em países francófonos.

– A Austrália fica na Oceania, e é um país com presença cativa no Eurovisão desde 2005. A emissora estatal local transmite o festival há anos, sempre com boa recepção dos fãs, mas a estreia foi apenas neste ano e muito bem: o hoje sucesso internacional Guy Sebastian foi o primeiro a participar pelos “aussies” no concurso e até que foi bem, com um quinto lugar geral. Desde então, os australianos também estão nesta festa.

– Nossos irmãos lusitanos tem uma história a parte no Eurovisão. De 1964 a 2017, Portugal ostentou o status de um dos que mais tempo participaram sem ganhar uma única vez junto do Chipre. No entanto, quando conquistou seu primeiro título, no festival realizado em Kiev (Ucrânia), Salvador Sobral não fez feio: sua “Amar Pelos Dois” detém o recorde de pontos numa grande final: 758. Que lavada de alma!

– Questões políticas e sociais também marcam muitas edições do Eurovisão. Este ano, a Rússia foi sumariamente excluída do festival, obviamente, por conta da invasão da Ucrânia. Mas já houveram situações um tanto quanto inusitadas para um país não participar do festival. Em 1974, a Itália não transmitiu o concurso pois, no mesmo dia, o país fazia um referendo sobre a revogação da lei do divórcio. Mesmo romântica, a canção “Si” de Gigliola Cinquetti foi interpretada como uma “influencia ao voto no ‘sim’” no processo, que ocorria no mesmo dia do festival e foi vencida pelo “não”.

– E como todo festival que celebra a diversidade, o Eurovisão também teve um vencedor bem diverso na edição de 2014: Conchita Wurst, drag queen austríaca, foi a vencedora do concurso daquele ano. Um choque positivo e uma verdadeira surpresa que levou a Áustria a sediar o festival pela segunda vez em longos 48 anos.

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