Criatividade “roubartilhada”: Cinco vezes em que artistas brasileiros foram plagiados pelos gringos

“Gringo, quando não tem criatividade de fazer melhor, vem pra cá, rouba uma música nossa e pinta lá fora como grande sucesso mundial”. É fogo quando a gente pensa assim ao chegar alguma notícia referente a plágio – seja confirmado ou em investigação – de alguma das musicas do cancioneiro nacional que, de uma forma ou de outra, viraram hit na boca e interpretação de um grande artista “do estrangeiro”.

Que a qualidade musical brasileira é reconhecida mundo afora, isto não é nenhuma novidade. No entanto, há casos que ela é muito mais do que inspiração para artistas da gringa (cito Esperanza Spalding, Lana Del Rey e por ai…) mas fonte de montagem musical de algum novo som que surge nas prateleiras, e quando ouvido não nos disfarça pensar: “ei, eu conheço essa melodia!”

Há quem diga também que na vida nada se cria, que tudo se copia, e na música, não é diferente e jamais será, embora não deveria ser assim. Além de ser uma atitude antiética artisticamente, o plágio é crime previsto em lei, no artigo 184 do Código Penal. Mas, quem tem tempo de ler um compêndio de leis? Ai, as histórias aparecem, e a maioria sem nenhuma cara de coincidência.

Entre controversas, polêmicas e ações judiciais por plágio, recordamos cinco ocasiões em que artistas brasileiros serviram de inspiração – de forma direta, indireta, ou criminosa – para artistas de fora. Algumas, conhecidas e outras surpreendentes.

“Taj Mahal” (Jorge Ben Jor) X “Da Ya Think I’m Sexy?” (Rod Stewart)

Um dos casos de plágios mais polêmicos da música brasileira envolve ninguém menos que Rod Stewart, que alegou ‘plágio involuntário’ ao ser questionado sobre as semelhanças entre as melodias de um dos maiores hits de sua carreira, “Da Ya Think I’m Sexy?“, de 1978, e “Taj Mahal“, do brasileiro Jorge Ben Jor, de dois anos antes. O escocês esteve em terras cariocas durante o Carnaval quando uma das canções mais famosas de Jorge Ben estava nas paradas de sucesso do país.

Não deu em outra: a equipe produtora do cantor brasileiro entrou com uma ação na Justiça, em razão dos direitos autorais de “Da Ya Think I’m Sexy?” e o caso teve grande repercussão na mídia nacional. Os artistas entraram em um acordo pacífico, e Stewart doou todos os lucros da música à UNICEF.

Em 2012, Rod Stewart confessou o plágio ‘inconsciente’ em sua biografia, onde afirmou que a melodia de Ben Jor ficou em sua memória quando começou a compor o que chamou de “puro e simples plágio inconsciente”. Faz parte, ainda mais quando a melodia parece um agradável “chiclete”…

“Mulheres” (Toninho Geraes e Martinho da Vila) x “Million Years Ago” (Adele)

O mais recente plágio de artistas brasileiros envolve uma das vozes femininas mais poderosas da geração. Adele está sendo processada pelo compositor mineiro Toninho Geraes, pelas semelhanças entre o clássico “Mulheres“, interpretada por Martinho da Vila em 1995, e a faixa “Million Years Ago” de 2015.

A faixa faz parte do álbum ‘25‘ e está creditada ao produtor musical e compositor norte-americano Greg Kurstin. Geraes enviou um notificação extradicional ao selo XL Recordings/Beggards Group, além da gravadora Sony Music, e de acordo com a acusação, uma perícia aponta que a canção de Adele copiaria 88% da melodia do clássico do samba.

A polêmica ganhou ainda mais força após a revelação de que Kurstin é fã de música brasileira de longa data, e possui um amplo conhecimento sobre música brasileira. Kurstin conta em sua biografia do Spotify que se mudou para Nova York para estudar música brasileira após o colegial, citando ainda que aprendeu a tocar berimbau e que isso influenciou grande parte da sua carreira eclética.

Além de Adele, o produtor trabalhou anteriormente com grandes artistas, como Paul McCartney, Sia, Foo Fighters e Pink.

“Seville” (Luiz Bonfá) x “Somebody That I Used To Know” (Gotye)

Apesar de desaparecido da vida artística há quase uma década, o cantor belga Gotye assumiu que o hit “Somebody That I Used To Know” foi influenciada pela bela “Seville“, do violonista brasileiro Luiz Bonfá, ao ser intimado em um processo judicial pela família do artista. A canção original foi lançada na década de 1960, e diante da acusação, Gotye se comprometeu a pagar uma indenização de US$ 1 milhão para a família do músico falecido em 2001 em decorrência a complicações de um câncer de próstata.

A acusação veio em 2013 e Gotye declarou a Billboard que os riffs de Bonfá serviram de inspiração para os primeiros versos da canção além de ser ponto de partida para o desenvolvimento lírico a partir da lembrança de diversos relacionamentos frustrados. Na época de seu lançamento, o single em parceria com a cantora Kimbra chegou em primeiro lugar nas paradas em mais de 20 países.

“What To Do” (Vanusa) x “Sabbath Bloody Sabbath” (Black Sabbath)

Quem conhece o trabalho da saudosa Vanusa pelas baladas românticas pode não imaginar de pronto, mas em 1973 ela era um nome promissor no Rock. No quarto álbum autointitulado de sua carreira, Vanusa surfava na onda roqueira e psicodélica que dominava o fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, que resultou na excelente faixa “What To Do”.

Na canção, a Vanusa solta o vozerão em inglês em meio a riffs fortes de guitarra, estes que se tornaram tão icônicos a ponto de supostamente ‘inspirar’ “Sabbath Bloody Sabbath”, do lendário Black Sabbath. Isto acontecendo no período que o grupo de Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler enfrentava um bloqueio criativo devido ao abuso de substâncias ilícitas. “Feliz coincidência”, não?

Embora a diferença de cinco meses entre o lançamento de “What To Do” e “Sabbath Bloody Sabbath“, não há confirmação ou ação judicial por parte de Vanusa, ou qualquer outra evidência que confirme que Iommi teria ouvido e usado a canção da artista como inspiração. Curiosamente, em entrevista dada em 2001, o próprio Geezer afirmou que a banda estava quase acabada, até que Tony surgiu com o riff daquela faixa.

Por um outro lado, Vanusa, falecida em 2020, não parecia se importar com as semelhanças entres os riffs. Quando questionada sobre o assunto, em 2016, a artista afirmou que era apenas uma mera “coincidência musical”. Se for mesmo, pense só que senhora coincidência.

“Maria Moita” (Carlos Lyra) x “Smoke on the Water” (Deep Purple)

Nesta história de excesso de inspiração em artistas tupiniquins, sobrou até para o consagrado “poetinhaVinícius de Moraes, compositor de “Maria Moita“, canção interpretada por Carlos Lyra, e lançada originalmente em 1964. A música é introduzida por um belíssimo arranjo de sopro, bastante característico e fácil de associar por sua melodia.

No entanto, há quem diga que esta simpática composição inspirou um dos riffs mais populares da história do Rock mundial, e não é qualquer riff, trata-se das linhas de “Smoke on Water“, do Deep Purple, uma das bandas de rock mais reverenciadas de todos os tempos e que traz a exata mesma melodia que a composição de Moraes e Lyra.

Embora não se tenha notícias de uma acusação formal de plágio, o compositor e guitarrista Ritchie Blackmore afirma que a inspiração para a sequência de notas do riff se deu inspirada pela composição da 5ª Sinfonia de Beethoven, porém com notas ao contrário. Se foi subterfúgio pra escapar da acusação, se saiu bem, mas que a semelhança assusta, não dá de negar.

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