“Proibida a execução pública”: cinco hits do Rock brasileiro que foram censurados (e você provavelmente não sabia)

Que muitos compositores brasileiros tiveram músicas censuradas durante o regime militar nos anos 1970, notadamente Chico Buarque, é um fato bastante conhecido. Um pouco menos lembrada é a história de que a geração do Rock brasileiro da década de 80, que começa a gravar entre o fim do período de exceção e a redemocratização, também teve problemas com a censura.

Entre alguns casos pontuais, um dos mais lembrados sempre neste quesito e já dentro dos anos 1980 é o do icônico “As Aventuras da Blitz” (1982), o disco que abriu o caminho para a explosão de facto do Rock nacional, teve duas faixas com lançamento vetado pela temerária “Divisão De Censura De Diversões Públicas” (DCDP) e se tornou uma importante peça na briga por mais liberdade artística no Brasil.

No entanto, de forma até bem-humorada, ao invés de prensar o LP sem as tais canções, o produtor Mariozinho Rocha teve a ideia de lançar o álbum com as faixas propositadamente inutilizadas, deixando claro ao público que ele estava sendo impedido de conhecer o trabalho por inteiro (eles riscaram a fita master com um prego).

Posteriormente, “Ela Quer Morar Comigo Na Lua” e “Cruel, Cruel Esquizofrenético Blues” tiveram seus lançamentos liberados, mas não a execução pública, e saíram em um compacto (lacrado e com venda permitida somente a maiores de 18 anos). Foi quando se percebeu que as tais músicas não tinham quase nada de comprometedor (a primeira trazia a palavra “bundando” e a segunda um discreto “PQP“).

Apesar disso, tinha quem se arriscasse a moer a agulha do toca-discos tentando ouvir as duas faixas, e mais curioso é saber que o disco com este trecho inutilizado é, no mercado de bolachas de hoje, uma verdadeira raridade.

Outro caso neste período: a maior responsável pelos cortes nesses tempos foi Solange Hernandes, que ganhou uma “homenagem” de Leo Jaime, que fez uma versão de “So Lonely”, do Police, rebatizada como… “Solange” (“Eu tinha tanto pra dizer/Metade eu tive que esquecer”).

Tecnicamente, a censura chegou ao fim em 29 de julho de 1985, em um ato público com a presença de quase mil artistas e intelectuais. Na prática, um bom número de músicas ainda teve sua execução pública vetada, ainda que, como veremos a seguir, sem maiores consequências práticas.

Veja cinco canções do rock brasileiro que foram censuradas e que talvez você não soubesse:

1 – “Revoluções Por Minuto” (RPM)

O verso: “agora a China bebe Coca-cola/ Aqui na esquina cheiram cola” incomodou os censures que proibiram a sua execução pública. A música abria os shows da banda e também foi posteriormente a faixa de abertura de “Rádio Pirata Ao Vivo“, o maior fenômeno de vendas do Rock brasileiro, ou seja, ela rapidamente caiu na boca de milhões de adolescentes e pré-adolescentes do país.

2 – Marylou” (Ultraje a Rigor)

Por incrível que pareça, essa canção de um humor quase infantil, também foi censurada. A história da galinha Marylou, que “transava até com urubu e botava ovo pelo sul” pode não ter tocado nas rádios, mas ficou na boca das centenas de milhares de pessoas, incluindo muitas crianças, que compraram o disco “Nós Vamos Invadir a Sua Praia” (1985).

No carnaval de 1986, o Ultraje lançou um single, chamado “Liberdade Para Marylou” com a música em ritmo de marchinha (e um trombone “cantando” os versos problemáticos).

3 – Bichos Escrotos” (Titãs)

O DCDP não gostou de ouvir o vocalista Paulo Miklos ofendendo a oncinha pintada, a zebrinha listrada e o coelhinho peludo. Não que isso tenha impedido o sucesso da música que virou um clássico do rock brasileiro.

4 – “Veraneio Vascaína” – Capital Inicial

A mais política das canções aqui selecionadas, “Veraneio” foi composta por Renato Russo e Flávio Lemos ainda na época do Aborto Elétrico, a primeira banda punk de Brasília, e trazia uma forte crítica à violência da polícia (os “assassinos armados, uniformizados” da primeira estrofe).

A música não só teve sua execução pública vetada, como o disco de estreia do Capital chegou a ter a sua venda proibida para menores, ainda que não se saiba se algum lojista realmente se recusou a vender o LP para algum adolescente que queria ouvir “Música Urbana”, “Fátima” ou “Leve Desespero“.

5 – “Faroeste Caboclo” – Legião Urbana

Talvez o último disco com músicas censuradas, e a prova de que a proibição era totalmente inócua, “Que País É Este“, o terceiro álbum da Legião, teve duas canções com execução pública vetada: “Conexão Amazônica” (pelo tema, e provavelmente o verso “A cocaína não vai chegar / Conexão amazônica está interompida“) e, pasmem, “Faroeste Caboclo” que se tornaria una das canções mais populares da banda.

Quando a música começou a tocar nas rádios, mesmo com seus mais de nove minutos, algumas emissoras escondiam a parte do “FDP sem vergonha” ou do “general de dez estrelas que fica atrás da mesa com o c*** na mão“, enquanto outras não se incomodaram com os palavrões. No Globo de Ouro da Rede Globo, o próprio Renato Russo se “auto-censurou” e não conseguiu esconder o riso, como pode ser visto no clipe abaixo:

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