Lenda da bossa nova e ícone da música brasileira no exterior, Sérgio Mendes morre aos 83 anos

Uma sexta-feira triste para nossa música. Sérgio Mendes um dos mais populares músicos brasileiros em todo o mundo, morreu aos 83 anos nesta sexta-feira. Segundo informou a família do pianista, produtor e arranjador, o carioca nascido em Niterói em 1941, que vivia há décadas em Los Angeles, Mendes morreu após contrair a Covid-19 persistente.

Em uma carreira de mais de seis décadas, Mendes alcançou um sucesso reservado para poucos atingindo o top 10 da Billboard, tanto de álbuns quanto de singles, ganhando três Grammys, sendo dois latinos, e ganhando uma indicação ao Oscar. A popularidade de Mendes no exterior fez com que ele sofresse críticas no Brasil – acusações de que ele estaria “pasteurizando” a música do Brasil para atingir o grande público dos EUA foram comuns em sua trajetória, mas o tempo acabou lhe fazendo justiça, especialmente quando seus discos são redescobertos a partir dos anos 1980 por por DJs, fãs de lounge music e produtores de hip hop.

will.i.am, um de seus maiores fãs, gravou com ele o disco “Timless” quando os Black Eyed Peas estavam no auge. O álbum ganhou disco de ouro no Reino Unido, chegou no top 50 dos EUA e fez, mais uma vez, de “Mas Que Nada“, canção de Jorge Ben Jor que ele levou para o mundo ainda nos anos 60, novamente um hit global e com proporção ainda maior do que fora na chegada dela nos EUA, ainda em 1966.

Mendes foi um dos pioneiros da bossa nova. Em 1961 ele lançou seu disco de estreia e não demorou muito para começar a excursionar pelo exterior e gravar com grandes nomes do jazz. No ano seguinte ele foi um dos participantes do clássico concerto dedicado à nova música brasileira no Carnegie Hall e, em 1964, logo após o golpe militar, optou por radicar-se de vez nos EUA. O sucesso de verdade chega quando ele aceita o conselho de seu parceiro de negócios Richard Adler para que gravasse algumas canções em inglês com cantoras norte-americanas. Nascia o Brasil ’66 que lançaria quatro discos de enorme popularidade pela A&M Records, gravadora do renomado trompetista Herb Alpert.

Look Around“, de 1967, fica no quinto lugar da Billboard e ganha disco de ouro. “Fool On The Hill” (1968) chega ao número três emplaca dois singles no top 10 com a versão do hit dos Beatles que dá nome ao álbum e “Scarborough Fair“, versão da canção folk inglesa que Simon & Garfunkel popularizaram.

Sérgio continua gravando discos nos EUA e volta a atingir o grande mainstream em 1983, não por acaso quando retorna à A&M, com o álbum “Sérgio Mendes“. É neste LP que está um dos grandes clássicos do pop adulto daquela década, “Never Gonna Let You Go“, composição de Barry Mann e Cynthia Well, autores de inúmeros clássicos do pop sessentista. O single chegou ao quarto lugar nos EUA e entrou na parada das 10 músicas do verão que a Billboard divulga anualmente em setembro.

Os últimos anos viram Sérgio ganhar um reconhecimento merecido, e tardiamente falando se considerarmos a presença dele próprio no cancioneiro nacional. “Brasileiro“, seu disco de 1993 ganha o Grammy de world music. Em 2005 ele ganha um Grammy Latino especial pelo conjunto de sua obra e em 2010 o de melhor álbum brasileiro de pop contemporâneo. No ano seguinte, ele é indicado ao Oscar de melhor canção original por “Real In Rio“, composta para a animação “Rio” – a vencedora foi “Man or Muppet“, de Bret McKenzie feia para “Os Muppets“.

Sem dúvidas, despede-se um dos maiores cidadãos do mundo da musica brasileira, responsável por dar ainda maior proporção a música brasileira no exterior, dentro do estilo peculiar que a marca e, sobretudo, com uma mistura que fez o mundo entender ainda mais aquilo que só mesmo o brasileiro tem no som e como já dizia o mestre Nino de Jaú: “Swing e cintura, coisa que inglês não tem”.

Gratidão por tanto, Sergio!

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