Luto na TV brasileira. Um de seus maiores nomes, talvez o mais importante em 74 anos de televisão, deixou o palco para encontrar-se com amigos artistas de outros tempos. Para alguns, podia parecer previsível pela idade e condição de saúde, mas o choque afeta gerações e gerações que o viram marcar domingos e domingos a fio. O “homem do Bau“, o “peru que fala“, o “cenourinha” não está mais aqui.
Silvio Santos, empresário, apresentador e ícone da TV nacional, morreu neste sábado (17) aos 93 anos. A informação foi confirmada pelo SBT nas redes sociais depois de longos dias de batalha de Silvio para recuperar-se da uma gripe H1N1. Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Eistein desde julho deste ano por conta da recuperação da doença. Chegou a ter alta, mas no inicio do mês, voltou a ser internado para, segundo a assessoria do SBT, passar por exames de imagem.
Senor Abravanel, seu nome fora das câmeras, foi um dos maiores nomes da TV brasileira, em especial à frente da atração que comandava desde 1963: o Programa Silvio Santos, exibido por Globo, Record, Tupi e, claro, pelo SBT, emissora que fundou ainda como TVS em 1976 e que consolidou como Sistema Brasileiro de Televisão em 1981.
Carioca da Lapa, nascido em 1930 na Travessa Bem-te-Vi, era descendente grego de origem judia vinda de seus pais: Alberto e Rebeca Abravanel, e era o mais velho de cinco irmãos. Foi casado com Maria Aparecida Vieira, a Cidinha, que morreu em 1977 vitima de um câncer. No fim dos anos 1970, conheceu Iris Pássaro, que era sua atual esposa desde 1978.
Começou a mostrar o tino empresarial e de comunicação nas ruas do Rio, vendendo capas para titulo de eleitor. Numa destas batidas policiais, acabou em um estudio de rádio e, de lá, não mais parou. Incentivou e integrou caravanas de artistas e levava sua animação ate mesmo nas lentas barcas de Niterói, onde tinha um serviço de comunicação e de sorteio de prêmios.
Fez o Baú da Felicidade nascer de um negócio falido do sempre amigo Manoel de Nóbrega, transformando-o num ícone pop e do empresariado indelével. Ao mesmo tempo, a televisão entrava na sua vida, apresentando seu primeiro programa em 1956, intitulado “Vamos Brincar de Forca?” Seria a gênese do que viria a ser o Programa com seu nome, começado sete anos depois.
Já consolidado nos negócios e na comunicação, em 1976 deu o passo maior e conseguiu a concessão do canal 11 carioca, abrindo a TVS (TV Studios Silvio Santos), embrião do que seria o SBT cinco anos depois, assumindo a concessão do canal 4 de São Paulo (que era pertencente a Tupi) e outras concessões. Foi também na mão dele que a Record, cujo Silvio era dono de metade da emissora, parou nas mãos de Edir Macedo e transformou-se em rede, em 1992, venda que proporcionou a construção do CDT, o Complexo Anhanguera, sede do SBT desde então.
O Programa com seu nome atravessou gerações, acumulando grandes momentos, sorridentes ganhadores dos prêmios do Bau, algumas controvérsias mais passagens icônicas que revelavam todo seu talento para “dominar” o público com carisma, alegria e irreverencia. Em setembro de 2022, quase sem cerimônias, apresentou pela última vez a atração, já com idade avançada mas sem perder o rebolado em frente as câmeras.
Silvio, pode-se dizer, “zerou a vida” em muitas facetas da vida artística e empresarial. Quis também enveredar pela política, entrando na concorrência para presidente em 1989, mas teve a candidatura negada pela forma como a entrada na disputa se fez. Apresentou grandes premiações como o Miss Brasil e o Troféu Imprensa, este último o maior louro da TV brasileira. Chegou a ser enredo de escola de samba, tendo a história contada pela Tradição (RJ), em 2001. Uma vida intensa, cheia de nuances, que teve suas polêmicas e fofocas, mas exemplar na mostra de como crescer e vencer em duas frentes e com grande sucesso.
Silvio Santos deixa a viúva Íris Abravanel, e teve as filhas Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata. Também deixa as filhas Cíntia e Silvia, do primeiro casamento, com Cidinha, além de um país inteiro em choque, triste e agradecido por tanto vivido com o velho Silvio nas telas de muitas televisões a cada noite de domingo.
Silvio Santos, é coisa nossa!