Rainha do Rock n’ Roll, diva que trafegou também pelo Soul e foi marcada por uma das histórias mais impressionantes da música internacional. Os microfones de Tina Turner, tão intensos e marcantes, se desligaram em definitivo. Reverenciada pela atitude e garra, a cantora morreu aos 83 anos, tendo a morte sido confirmada pelo assessor da artista durante a tarde desta quarta-feira (24). A causa do falecimento não foi divulgada, sendo vagamente atribuída a “uma longa doença”. Ela estava em sua casa ,na Suíça.
Da sua voz e energia, nasceram alguns dos hits mais marcantes e explosivos dos anos 1980, já em carreira solo: “What’s Love Got to Do With It“, “The Best” e “We Don’t Need Another Hero” a lançaram de volta ao estrelado depois de uma primeira aventura musical com ex-marido, Ike Turner, onde fizeram relativo sucesso no final dos anos 1960 e início dos anos 1970.
Anna Mae Bullock veio de uma família pobre dos Estados Unidos. Aos 15 anos, foi abandonada pelos pais e começou a cantar em boates para se sustentar. Foi numa destas apresentações que conheceu Ike, que cantava junto da banda The Kings of Rhythm. De backing vocal a voz principal do grupo foi um pulo, assim como o casamento com Ike e a adoção do nome artístico que tornaria-se a sua marca maior na música.
Apesar do sucesso, que rendeu a versão intensa de “Proud Mary” em 1971, o casamento foi marcado por brigas e escândalos. Ike era alcoólatra e dependente de drogas e, constantemente, culpava Tina pelo declínio da dupla, fora as agressões, humilhações e traições que era submetida, aparecendo em público, muitas vezes, com olho roxo e lábios inchados.
Foram 18 anos de suplício até ela pedir o divórcio. Conseguiu, na justiça, manter o sobrenome Turner, pagando o preço de abrir mão do patrimônio pessoal para tanto. Assim, Tina recomeçava do zero, sem dinheiro, morando junto de uma amiga e abriu shows para outros grupos famosos da época, como os Bee Gees. Ike morreria de uma overdose de cocaína, em 2007.
Finalmente livre, Tina preparava a volta. E quem poderia apostar que, depois de toda a tortura de vida, ela poderia dar a volta por cima como ela daria nos anos seguintes? Transitou do Soul para o Rock, influenciada por David Bowie e Rolling Stones, sendo que o próprio Mick Jagger se inspirou em Tina para criar sua icônica dança nos palcos. O visual trouxe a energia: roupas ousadas e cabelos loiros espetados. Tudo estava acontecendo.
Em 1984, viria “Private Dancer“, o grande álbum que a recolocaria, definitivamente, no trilho da música. Pensar que, de primeira, Tina não queria gravar “Whats Love Gotta Do With It“, mas este som seria o motriz do disco, a fazendo faturar mais de 10 milhões de cópias em todo o mundo. Dança, energia, atitude de uma grande mulher, o título de “Rainha do Rock” surgiu aos 45 anos, e não por acaso.
A ligação com o Brasil sempre foi muito intensa para a cantora. Ela chegou a receber uma irreverente homenagem de Regina Casé, que incorporou a personagem Tina Pepper para a novela Cambalacho, em 1986. Ainda por aqui, um dos shows da turnê “Break Every Rule“, a maior da carreira da cantora, a fez entrar para o livro dos recordes: 184 mil pessoas estavam presente em uma única apresentação no Maracanã, com transmissão ao vivo para todo o mundo.
No entanto, talvez o momento mais icônico de Tina com o Brasil foi a aparição surpresa do tricampeão da F1 Ayrton Senna durante um de seus shows na Austrália, em 1993. A apoteótica “The Best“, lançada no começo da década, já era uma espécie de hino de alguns atletas e acabou virando uma marca do piloto, a qual ela se referia como uma admiradora.
Atriz, cantora de mão cheia, dançarina cheia de energia, mulher gigante, unica! Tina deixa seu segundo marido, o executivo musical alemão Erwin Bach. Eles se casaram em julho de 2013, após 27 anos juntos. Ela deixa também dois filhos de Ike Turner, Ike Turner Jr e Michael Turner, adotados por ela. O primeiro filho, Craig Raymond Turner, morreu em julho de 2018. Outro filho, Ronnie, morreu em dezembro de 2022.