Por Maurício Carvalho
Hoje, aos 75 anos, a voz de Rita Lee se calou. Ela que falou muito de saúde (além da faixa título, cantou em Nem Luxo Nem Lixo: quero saúde para gozar no final), não resistiu a um câncer e acabou falecendo nessa segunda. Mas a saída desse plano faz essa paulista entrar ainda mais na imortalidade. Nascida no último dia do ano de 1947, ela fez o Brasil comemorar Ano Novo a cada música ou disco lançados, em todas as suas fases, desde os Mutantes, passando pelo Tutti Frutti e chegando na sua longa carreira solo.
A rainha do rock nacional começou cedo, com apenas 19 anos, em 1966, nos Mutantes. Ao lado do namorado Arnaldo Baptista ela colocou a banda num patamar internacional, emprestando sua voz cálida e marcante em clássicos como 2001 e Ando Meio Desligado, entre várias outras. Após brigas com Arnaldo, ela foi expulsa da banda em 1972 e resolveu criar outra banda, que mais uma vez marcou a história do rock nacional: a Tutti Frutti.
Entre 1973 e 1978, Rita Lee liderou a banda, ao lado de Lucia Turnbull, Luis Carlini e Lee Marcucci, enfileirando hits desde o álbum Fruto Proibido (1975), do quilate de Ovelha Negra, Agora Só Falta Você, Coisas da Vida e Jardins da Babilônia. Problemas com Carlini e o começo do namoro com o guitarrista Roberto de Carvalho fazem Rita sair da banda e começar uma carreira solo na década de 80.
Com uma pegada mais pop e falando de sexo e relacionamentos de uma forma mais aberta e direta, Rita enfileirou sucessos como Mania de Você, Mutante, Saúde, Baila Comigo, Doce Vampiro, Chega Mais, Vírus do Amor, Desculpe o Auê… A lista é impressionante e vai exigir muitas linhas. Rita foi se consolidando como uma pensadora livre da música, uma autora com um selo de criatividade próprio que saltava aos ouvidos a cada nova faixa lançada.
Rita Lee também foi multimídia. Lançou seis livros, focados no público infantil, um livro de fotos em 2018 (FavoRita) e DUAS biografias, em 2016 e 2023. Foi uma participante muito interessante do programa Saia Justa, tricotando com os pés sobre o sofá e dando opiniões claras e calmas sobre tudo. Rita Lee foi extrema quando jovem, amadureceu plena em sua sexualidade e envelheceu com a sabedoria dos gênios, dividindo opiniões e ideias com quem quisesse ouvir. Hoje essa voz da pessoa se calou, mas a genialidade de Rita fica latente em tudo o que ela fez, seja música, livro, fotos ou TV. Rita Lee foi passear por aí, mas segue do nosso lado.