E a música brasileira amanheceu neste domingo (27) um pouco menos irreverente. Morreu na noite de sábado (26) aquele que, por anos, arrepiava as espinhas de alguns ou soltava as gargalhadas de muitos em plateias pelo país, sempre com seu lado atrevido, ácido e cômico com um violão na mão: Juca Chaves. O cantor, compositor e humorista tinha 84 anos e estava internado no Hospital São Rafael, em Salvador (BA) e a causa da morte não foi divulgada.
Carioca da gema mas vivendo há décadas na capital baiana, no bairro de Itapuã, junto da família. Jurandyr Czaczkes Chaves, ou simplesmente Juca, era conhecido como “O Menestrel Maldito“, apelido ganho do poeta Vinicius de Moraes. Era formado em música clássica e começou a cantar e satirizar ainda na década de 1950, nos estúdios da TV Tupi paulista, mesclando sua música ao humor ácido, inteligente e carregado de críticas sociais.
Da sua caneta compositora, nasceram grandes sucessos da musica brasileira como “A Cúmplice“, “Menina“, “Que saudade“, “Presidente Bossa Nova” e “Take Me Back to Piaui“. Notadamente, a crítica ácida não caiu bem nos olhadas da ditadura militar (1964-1985), e Juca foi um dentre tantos perseguidos, partindo para um exílio que alternou-se entre Portugal e Itália, sem deixar de compor e, claro, escandalizar.
Com seis décadas de carreira nas costas, Juca lotou teatros divertindo suas plateias, colecionou bordões e sucessos. Antes das apresentações, era corriqueiro convocar o público com uma de suas frases célebres: “vá ao meu show e ajude o Juquinha a comprar o seu caviar”. E apesar de suas críticas sempre reverberarem na política, o cantor foi candidato ao Senado pela Bahia em 2006, no PSDC.
Nesta feita, não podia ser diferente, ele usou da poesia e do humor para pedir votos. “Desta vez baiana gente, baiano de toda cor, o seu voto inteligente com justiça com amor, não será voto comprado, se tivermos no senado, Juca Chaves senador”, dizia no horário eleitoral. Ele não foi eleito, mas a campanha divertiu os baianos.
Juca era casado, desde 1975, com Yara Chaves, com quem vivia na capital baiana. Ele deixa duas filhas: Maria Morena e Maria Clara, além de uma lacuna na música brasileira que dificilmente será preenchida por alguém do seu calibre: a dos menestréis que não tinham papas na língua para apontar o dedo nas demandas sociais e transforma-las em música.